Hotel Soulska

L. Lightfeather
3 min readApr 5, 2022

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A Russia pós-guerra era um território completamente deserto, os duros anos de guerra levaram o país a uma completa exaustão dos seus recursos, logo começou a aparecer os assassinos, torturadores, estupradores e saqueadores. Mas a quebra da economia, as insurgências, a fome e as doenças não foram o principal motivo pelo qual os russos abandonaram sua pátria.

Ninguém entendeu o fenômeno sombrio que tomou posse das principais cidades eslavas, tudo começou em Moscow. O que se viu em seguida foi a fuga massiva dos cidadãos, se via párias em países de diferentes lugares do mundo, absolutamente nenhum refugiado russo sabia explicar com palavras o que levou eles a largar tudo tão desesperadamente.

Nem todo mundo conseguiu ir embora.

Joshua Keith, um jornalista freelancer se dedicou a investigar o terror que se instalou naquela parte da Europa. Usando suas fontes, ele conseguiu se conectar com sobreviventes que compartilhavam em fóruns da deep web informações sobre os sintomas das pessoas que foram supostamente possuídas, as anomalias climáticas, quais caminhos eram seguros de se transitar e quais estabelecimentos ainda funcionavam. Foi assim que ele descobriu o Hotel Soulska.

Sem pensar duas vezes ele deu um jeito de chegar até Moscow, não quis levar nenhum equipamento além da sua caderneta, o objetivo era um só, coletar relatos dos sobreviventes e levar essa informação para o resto do mundo. A primeira coisa que percebeu foi que a anomalia climática era verdade, em plena tarde não se via a luz do sol, o farol do carro era a única coisa que iluminava o caminho e alguns raros postes que funcionavam se intercalavam, não identificou sequer uma alma viva nas ruas durante todo o caminho.

De repente ele identificou uma fachada iluminada, havia finalmente chego ao Hotel Soulska. Estacionou, pegou sua mala e foi direto para a entrada. Ao dar o primeiro passo pela porta, sentiu uma atmosfera macabra. Sufoco. Trevas. Imediatamente um frio subiu pela espinha. Algumas luzes estavam acesas e ele conseguiu fitar uma recepcionista. Uma mulher aparentemente normal, uma sobrevivente? Cabelos negros, olhar sedutor, batom e uma postura assustadoramente perfeita.

— Boa noite senhor Joshua, estávamos esperando por você.

— Finalmente encontrei alguém, eu tenho tantas perguntas.

— Calma, a sua viagem deve ter sido muito cansativa, vamos deixar a nossa conversa para amanhã, temos muito para compartilhar com você. — Aqui está a chave do seu quarto, te espero amanhã nesse mesmo lugar.

Se sentindo realmente cansado, Joshua decidiu não insistir, visualizou o número 23 na chave e foi em direção às escadas já que não viu nenhum elevador. Na metade do caminho até o segundo andar ele não conseguiu mais conter o medo e a ansiedade, a paranóia tomou conta e ele começou a esperar pelo momento que fosse começar a escutar gritos, arranhões ou gemidos. Nada. Silêncio absoluto.

Prosseguiu pelo corredor pobremente iluminado até encontrar o quarto 23, o cheiro de mofo permeava seu olfato, as paredes descascadas causavam desconforto e tudo que ele queria era entrar naquele quarto e finalmente descansar. Coloca a chave na fechadura, gira e nada, a porta não abria. Se questionou se o quarto tava ocupado e sem saber o que fazer decidiu olhar pela fechadura. Vermelho, tudo que viu foi vermelho, o mais puro tom de vermelho, ficou confuso por que no vão da porta não havia nenhuma luz e muito menos do tom vermelho. Decidiu descer e solucionar o problema com a recepcionista.

— Com licença, essa chave não abre o quarto 23.

— Senhor Joshua! Peço desculpas pelo equívoco, o seu quarto é o 22. O quarto 23 está interditado à muitos anos, desde a tragédia que aconteceu no período da guerra.

— Tragédia? O que aconteceu lá dentro?

— Durante a guerra alguns soldados se estacionaram no Hotel Soulska, infelizmente uma jovem hóspede não conseguiu fugir a tempo e foi brutalmente assassinada depois de ser violada por um pelotão. Por muito tempo chamavam ela de "a moça dos olhos de sangue".

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Written by L. Lightfeather

“L’amor che move il sole e l’altre stelle.” ― Dante Alighieri, The Divine Comedy

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